Em 2018, 500 mil filhotes de tartarugas foram salvos em São Francisco do Guaporé (RO), município a cerca de 630 quilômetros de Porto Velho. A informação foi confirmada pela Associação Comunitária Quilombola e Ecológica do Vale do Guaporé (Ecovale), que cuida dos animais na região há mais de 20 anos.
Além de trabalharem contra predadores naturais, o grupo, que faz o serviço voluntariamente, disponibiliza tempo para que os animais escapem da captura humana. Os filhotes foram soltos no dia 16 de dezembro no rio Guaporé.
Mais de meio milhão de tartarugas são soltas as margens do Rio Guaporé em Rondônia
“Em 2017 nós tivemos o apoio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Polícia Ambiental. Já esse ano, nós só tivemos a ajuda do Ibama na operação de salvamento. Foi com o apoio deles que conseguimos salvar esse número de 500 mil filhotes”, disse Zeca Lula, presidente da Ecovale.
Um dos principais predadores das tartarugas na Amazônia é o urubú. Segundo Zeca Lula, eles ficam na praia bicando os filhotes. Muitas vezes, as tartarugas chegam à água sangrando, o que atrai as piranhas que ficam no rio Guaporé. “O jacaré é um dos predadores desses filhotes também”, complementou o presidente.
Sobrevivência remota
Por causa dos predadores, as chances de sobrevivência entre as tartarugas são remotas. Conforme Zeca Lula, de cada mil, apenas uma consegue se salvar.
Por causa desse índice, a Ecovale cuida desses animais encontrados dentro de um berçário, onde ficam cerca de 22 dias com o objetivo de perder um tipo de cheiro que atrai predadores. “Assim, índice de sobrevivência sai de 0,001% para 5 ou até 15 %”, citou Zeca Lula.
Comércio ilegal
O comércio ilegal de tartarugas também é um dos desafios que a Ecovale enfrenta na região. Zeca Lula explicou que, quando os animais maiores se aproximam das praias para desovar, os caçadores ilegais as capturam.
Em média, o número de tartarugas levadas por caçadores varia de 30 a 50 em duas horas de pescaria. “Em alguns casos elas são capturadas em um arrastão pelos caçadores, onde conseguem capturar até 100 tartarugas por vez”, disse Zeca.
“Eles agem principalmente durante a noite e madrugada e, em muitas vezes, estão sempre armados’, explicou Zeca Lula.
As tartarugas são comercializadas na região por pelo menos R$ 300. Em uma única noite, os caçadores conseguem até R$ 5 mil. Zeca Lula contou que há residências do município que possuem animais escondidos e pronto para venda. Além disso, não há um posto do Ibama na região para que possa ser feita a fiscalização.
Soltura
Os filhotes de tartarugas foram soltos no último domingo (16) no rio Guaporé. Crianças e adultos puderam acompanhar de perto a ação da Ecovale na fronteira do Brasil com a Bolívia. Zeca Lula explicou que toda a área foi mapeada, de cerca de 12.500 mil metros quadrados.
O projeto conta com a ajuda de seis pessoas da Ecovale e de moradores da região que vão anualmente ajudar na soltura dos quelônios.
Fonte: G1