PUNGGYE-RI, Coreia do Norte – O regime da Coreia do Norte anunciou nesta quinta-feira que demoliu seu complexo nuclear usado para testes, com a presença de jornalistas da imprensa estrangeira para cobrir o evento. A destruição da base de Punggye-ri aconteceu em um local situado abaixo do Monte Mantap, na região Nordeste do país. De acordo com a mídia sul-coreana, túneis usados para ensaios nucleares foram explodidos.
O desmantelamento planejado do local havia sido anunciado anteriormente pelo líder norte-coreano, Kim Jong-un, antes da cúpula prevista para 12 de junho com o presidente americano, Donald Trump, em Cingapura. A decisão de fechar a base foi acolhida pela comunidade internacional com um gesto de Kim para estabelecer um tom positivo antes do encontro. No entanto, não é uma ação irreversível e precisaria ser seguida de várias outras medidas mais significantes para cumprir as exigências de Trump para a denuclearização.
Ainda que a imprensa estrangeira tenha sido convidada para acompanhar o desmantelamento, inspetores internacionais não foram, o que limita o valor da medida norte-coreana. Cerca de 20 jornalistas de organizações de notícias ocidentais e chinesas, como AP, CNN, CBS e Russia Today chegaram à Coreia do Norte na terça-feira.
No início do mês, a agência central de notícias do país disse que o desmonte do complexo nuclear de Punggye-ri envolve a destruição de todos seus túneis com explosões, o bloqueio das entradas e a remoção de todas as instalações de observação, prédios de pesquisas e postos de segurança.
Em 27 de abril, durante o encontro histórico entre os líderes da Coreia do Norte e do Sul, o líder norte-coreano propôs fechar as únicas instalações de testes nucleares conhecidas no país, próximas da fronteira com a China. O local foi onde Pyongyang realizou seis testes nucleares, sendo o último em setembro do ano passado — o mais potente deles.
CÚPULA COM TRUMP EM RISCO
Após o presidente americano, Donald Trump, indicar que a cúpula com Kim pode ser adiada, mais comentários de ambos os lados aprofundaram a tensão em torno do encontro. Nesta quinta-feira, a vice-ministra de Relações Exteriores da Coreia do Norte disse que o futuro da reunião depende “inteiramente” dos Estados Unidos e condenou uma entrevista do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, na qual comparou a Coreia do Norte à Líbia.
— Não imploramos aos EUA pelo diálogo, nem nos preocupamos em persuadi-los se não quiserem se sentar conosco — afirmou Choe Son Hui, segundo a agência de notícias norte-coreana KCNA.
Choe disse que poderia sugerir ao líder Kim Jong-un que a Coreia do Norte reconsidere a cúpula, marcada para 12 de junho em Cingapura, se os Estados Unidos ofenderem seu país.
Na segunda-feira, Pence declarou ao canal Fox News que não tem “qualquer dúvida” sobre a disposição do presidente Donald Trump de abandonar o diálogo, se perceber que não dará resultados. Ele repreendeu ainda os governos dos presidentes Bill Clinton e George W. Bush por se “deixar enganar” pela Coreia do Norte quando tentaram negociar com Pyongyang a eliminação das armas nucleares. O vice-presidente avaliou que a atual gestão não cometerá os mesmos erros:
— Para Kim Jong-un seria uma grave erro pensar que pode brincar com Donald Trump — disse.
Pence também declarou que a Coreia do Norte poderá terminar como a Líbia de Muammar Kadafi, morto durante uma revolta em seu país, “se Kim Jong-un não chegar a um acordo” com Washington sobre a eliminação das armas nucleares.
A vice-ministra norte-coreana qualificou a entrevista de Pence de “desenfreada e insolente”, e advertiu que Pyongyang não sentará na mesa de negociações sob ameaça:
— Não posso esconder minha surpresa diante de tais comentários idiotas e estúpidos da boca do vice-presidente americano — declarou ela, citada pela agência oficial de notícias KCNA. — Se os Estados Unidos forem contra nossa boa vontade e persistirem em atos ilegais e insultantes, transmitirei uma sugestão à direção suprema [da Coreia do Norte] para reconsiderar a cúpula.
Na quarta-feira, o secretário de Estado americano já havia dito que a decisão estava nas mãos da Coreia do Norte, e defendeu que os EUA abandonariam o encontro ao invés de aceitar um acordo ruim, o que não seria uma opção considerada.
Fonte: O GLOBO / AGÊNCIAS INTERNACIONAIS