Letícia de Souza da Silva, moradora da favela do Morro do Papagaio, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, desistiu de pegar o material didático fornecido pela escola de um dos seus nove filhos. Por não saber ler e escrever, não há como ela ajudá-lo nas tarefas.
“Nunca tive estudo na vida. Tenho dificuldade”, disse ela. O conteúdo da escola também é disponibilizado pela internet. Mas Letícia não tem telefone celular ou computador em casa.
A vizinha dela, Gleiciane Santos Pereira, foi quem a avisou do material físico fornecido pela Escola Municipal Benjamin Jacob.
“Eu fico falando para ela. Eu falo pra ela onde está entregando. Mas não ajuda muito e acaba desanimando ela. A maioria dos exercícios você tem que ler com seu filho. E quem não sabe ler?”, disse a vizinha.
Gleiciane tem um filho de oito anos que começou a acompanhar as atividades na última semana quando a escola passou a entregar o pacote com os exercícios. Antes, a manicure e diarista precisava levá-lo até a casa de um amigo que tem wi-fi.
“Eu estava arriscando sair com ele para não ficar prejudicado porque o certo é ficar dentro de casa. Eu tinha que sair porque não tenho acesso à internet”, contou Gleiciane.
Agora, o filho dela, Phillipe Matheus, está conseguindo acompanhar o conteúdo.
Filho de Gleiciane começa a estudar com material físico — Foto: Gleiciane Santos Pereira/Divulgação
“Estou estudando porque quero ser bombeiro”, disse ele.
A direção da escola disse que em um primeiro momento pretendia fortalecer o vínculo afetivo entre os alunos e a instituição. Por isso começou a promover os conteúdos on-line. Mais tarde, houve a demanda pelo material físico. Agora, a escola estuda outras maneiras de atingir todos os alunos.
A Secretaria Municipal de Educação em Belo Horizonte não determinou aulas à distância, mas deu autonomia às escolas que quisessem promover atividades.
A filha caçula de Gersiane do Carmo Silva dos Santos, também moradora do Morro do Papagaio e tem recebido o material didático. “Ela está gostando muito e aliviou para mim, né”, contou a auxiliar de serviços gerais.
Já as duas filhas de 14 e 16 anos, que estão em uma escola estadual, têm tido dificuldade para acompanhar as aulas porque não têm acesso à internet. “Elas usam o meu celular porque a gente não tem computador em casa.
Segundo a Secretaria de Estado de Educação que, ao contrário da pasta municipal em Belo Horizonte, fez um programa de aulas remotas, os alunos podem acompanhar o conteúdo pela TV através da Rede Minas e também pelo material físico.
Acolhimento
Desde maio, a Escola Municipal Ulisses Guimarães tem fornecido pacotes com material pedagógico aos 370 alunos dos ensinos infantil e fundamental.
“Escola é acolhimento. Os meninos têm uma ligação forte já que o ensino é integral. Eles entram às 7h e saem às 17h30. Então, quando veio a pandemia, começamos a trabalhar ações de forma independente”, contou a diretora Bernadete Maria dos Reis.
No início, apenas vídeos eram feitos. Mas depois, a diretora percebeu que muitas famílias não tinham internet para acompanhar as atividades. Foi aí que surgiu o pacote com material pedagógico.
A liderança da comunidade foi acionada e o material passou a ser deixado em lojas da favela e no centro comunitário.
“A ideia deu tão certo que incluímos os alunos da Educação de Jovens e Adultos. É um vínculo importante entre a escola e a comunidade”, disse a diretora.
Fonte: G1