José Carlos Bumlai afirmou à PF que o presidente do Banco Schahin, Sandro Tordin, lhe disse que dirigentes da instituição queriam mantê-lo como ‘refém’ até conseguirem contrato bilionário com a Petrobrás
O empresário e pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula e preso desde 24 de novembro na Operação Passe Livre, disse à Polícia Federal que “acredita que foi usado como testa de ferro” na emblemática operação de empréstimo de R$ 12 milhões junto ao Banco Schahin – valor tomado por ele em outubro de 2004 e que teria sido destinado ao PT para quitação de dívidas de campanha com marqueteiros.
Bumlai afirmou que tentou por longos cinco anos quitar a dívida, mas o então presidente do banco, Sandro Tordin, lhe disse que dirigentes da instituição iriam mantê-lo como “refém”, principalmente pela relação de amizade que o pecuarista tinha com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A dívida só foi dada como quitada em 2009, um dia antes de o Grupo Schahin fechar contrato sem licitação de US$ 1,6 bilhão com a Petrobrás para operar o navio sonda Vitória 10.000.
O amigo de Lula foi indiciado pela PF pelos crimes de corrupção passiva e gestão fraudulenta de instituição financeira (Lei do Colarinho Branco). Ele disse que aceitou tomar o empréstimo para atender a pedido de Tordin e do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares – mais tarde condenado no processo do Mensalão. Segundo Bumlai, na época o PT “possuía muita força no cenário nacional e ele não queria se indispor com seus representantes”.
Afirmou que “não tinha ciência de quem receberia o dinheiro” – inicialmente, segundo ele, depositado nas contas do frigorífico Bertin, a seu pedido.
Depois que o presidente do banco revelou a estratégia dos dirigentes do Schahin de mante-lo como “refém” José Carlos Bumlai decidiu procurar o sucessor de Delúbio na tesouraria do PT, João Vaccari Neto. Segundo o amigo de Lula, Vaccari sabia que o banco “tinha relação” com o PT. Algum tempo depois, Vaccari o informou que estavam em curso negociações do Grupo Schahin para operação da sonda Vitória 10.000.
Nesse trecho de seu relato, Bumlai declarou: “Que o interrogando acredita que foi usado como testa de ferro na circunstância; que Vaccari lhe disse que iria ajuda-lo, momento em que o interrogando entendeu que haveria uma troca de favores, a qual resultaria na concessão do contrato de operação de sondas para a empresa e, concomitantemente, na quitação de sua dívida; que, dias depois, João Vaccari Neto falou que o problema do interrogando seria resolvido.”
Fonte:Estadão